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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009


(Filho de Nilo Pereira)
Ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco
Escrevendo para o Diário de Pernambuco:

O humor em Nilo Pereira
Nilo Pereira de fina ironia, espirituoso, brincalhão, a vida toda de bom humor.


O meu pai, escritor Nilo Pereira (NP), apesar de sua expressão austera, era espirituoso com os familiares, nas aulas ministradas, escrevendo ou palestrando.


Ele mesmo disse: "Há homens sem humor. Pode ser que ganhem mais depressa o céu. Mas, aqui na terra, são insípidos, insalubres, inodoros, incolores, como se dizia na antiga Química, que não sei, a estas horas, se ainda está em vigor."


O estadista Agamenon Magalhães, um dia chamou o então deputado Nilo Pereira, para comentar violenta crítica do Jornal Pequeno, que o acusara de perseguição, porque ele transferira um funcionário da Secretaria da Agricultura para a Secretaria da Fazenda, sempre chamada por Agamenon de o Tesouro.


Ele: "Nilo, você vê alguma coisa em colocar um funcionário à disposição do Tesouro?" Nilo: "Não. Demais seria botar o Tesouro à disposição de um funcionário."


Em casa, quando se convidava alguém para uma das refeições, ao sentarmos à mesa,papai, para descontrair, costumava dizer: "Aqui a comida é pouca, mas é ruim."

Doente, no hospital, uma enfermeira lhe disse: "Dr. Nilo, trouxe o trono para o senhor não precisar ir até a toalete." "O trono?" "Sim, professor." "Mas isso é o retorno à Monarquia," observou. Ainda enfermo, com fortes dores nas pernas, um enfermeiro trouxe-lhe uma pomada, dizendo: "Professor, esta é uma pomada usada nos cavalos." Nilo respondeu: "Se é bom para cavalo, deve servir também para burro. Pode aplicar."


Na inauguração do busto de Manuel Bandeira, após polêmica com o jornalista Mário Melo, este já falecido, papai, orador oficial, enquanto discursava, caiu uma forte chuva. Nilo exclamou: "Isso é Mário Melo lá de cima, protestando." Risos entre os presentes, inclusive deste escriba, o filho que o acompanhava em todas as solenidades, notadamente as culturais.


Um dia, ele e eu, vagueando pela Av. Guararapes, deparamo-nos com um sebista que, para vender, espalhou os livros usados na calçada. Nilo parou e, deitando os olhos num dos exemplares, apontando-o, disse: "Eu sou o autor desse livro." O rapaz perguntou: "Então, o senhor é Nilo Pereira?" "Sim, e estou aí já em segunda edichão."


Quando se aposentou pela Universidade Federal de Pernambuco, foi homenageado com memoráveis discursos professados pelos mestres Potiguar Matos e Paulo Miranda. Agradecendo, dentre outras coisas, disse: "O aposentado é um defunto legal" (Palmas e lágrimas nos olhos deste filho amoroso e orgulhoso do pai).


Encontramo-nos com Valdemar de Oliveira. Papai, brincando, disse: "Valdemar, quando ingresso no Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP)?" Valdemar: "Você, Nilo, não é Oliveira." "Mas Valdemar, eu me chamo Nilo de Oliveira Pereira." "Então, se considere do grupo. Que papel você gostaria de representar?" "Qualquer papel, desde que não seja um papel qualquer," disse NP. Valdemar abriu um sorriso de meia boca.


Quando se iniciou o horário de verão, o Nordeste incluso, este Jornal entrevistou intelectuais. O meu pai começou se dizendo contrário porque "No Nordeste, uma hora só não faz verão." Esta foi a manchete de capa do Diario de Pernambuco. Esta, a síntese de um Nilo de fina ironia, espirituoso, brincalhão, a vida toda de bom humor.

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