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domingo, 11 de outubro de 2009

por Geraldo Pereira (*)
Vez ou outra - muito raramente - me surpreendo com um impulso que nunca precisei controlar, o de telefonar para o meu pai. É que costumava comentar com ele as notícias do dia e os acontecimentos que a televisão cuida em informar nos plantões do jornalismo. Quase ligo, recentemente, quando o teto de uma igreja desabou e algumas vidas terminaram riscadas da existência. Não é mais possível a comunicação com Nilo Pereira. Há 17 anos, no dia 23 de janeiro de 1992, ele desapareceu, encantou-se no infinito das coisas, foi morar nas eternas brumas. Mas, este ano, o de 2009, é particularmente importante. Se vivo estivesse completaria o centenário. Não está mais entre nós, mas merece e deve ser lembrado, seja nessa crônica que me autoriza diretor de redação, mas, sobretudo, ao longo desses 365 dias que já começaram. Nilo, meu pai, foi um homem nascido em terras do engenho Verde-Nasce, no município do Ceará-Mirim, estado do Rio Grande do Norte. Veio ao mundo a 11 de dezembro de 1909, justamente, quando vencia a duplicata de um empréstimo feito pela família a outro proprietário, vencimento que resultou na entrega das terras ao credor, depois que ele destelhou a casa-grande. Foi morar na rua, como se usava dizer, onde se criou e onde fez as amizades todas de sua infância. Menino de interior, experimentou as inovações que chegava à cidade, à reboque da Revolução Industrial.Viu o primeiro automóvel circular nas ruas do lugarejo e assistiu à inauguração da luz elétrica. Quando o velho acendedor de lampiões, Boca de Uruá, viu o milagre das lâmpadas, não hesitou em verbalizar: É isso!". Pensou que o seu emprego desaparecia diante de coisa melhor. Ali estudou as primeiras letras com a professora Adele de Oliveira, a quem devia uma profecia cumprida depois, a de que seria bacharel em direito. Por lá, também, estudou francês, inicialmente com um professor vindo de Paris e depois com o seu cunhado Francisco Fernandes Sobral, que se mudou da cidade e foi morar em Juiz de Fora. Estudou direito, inicialmente, no Rio de Janeiro, mas transferiu-se para o Recife e aqui colou grau. Não quis advogar, depois de um fracasso como defensor substituto em certo Júri matuto, mas dedicou-se a escrever em jornais e a ensinar na Universidade Federal de Pernambuco, depois de ter sido um docente daqueles que percorriam vários colégios no Recife, fazendo um tour diário. Lembro-me muito bem da redação da Folha da Manhã, canto de meus passeios, tantas vezes, com ele, em manhãs de sábado. Ou lembro das passagens no Jornal do Commercio, onde eu era muito bem recebido pelos gráficos nas oficinas. Há um consórcio de instituições pernambucanas interessadas nas comemorações desse auspicioso centenário. A Universidade, onde Nilo trabalhou e foi diretor da então Faculdade de Filosofia, através de seu reitor, já assumiu a reedição de um livro. Resta decidir o título e fazer os ajustes finais. O Conselho Estadual de Cultura (CEC), colegiado a que pertenço e do qual ele foi fundador, através do presidente, vem trabalhando a possibilidade de uma palestra da aluna de mestrado da UFRN, Helicarla de Moraes, pessoa que tem se dedicado ao estudo do livro Imagens do Ceará-Mirim, no qual estão as lembranças do tempo das calças curtas. São memórias entremeadas por comentários antropológicos desse tempo. Acertando, de igual forma, a possibilidade de se ter em Pernambuco, mesmo, uma outra reedição de um volume - uma coletânea talvez - reunindo plaquetes de algumas das conferências de Nilo. A Academia Pernambucana de Letras, que dedica o ano ao poeta Carlos Pena Filho, vai dividir esse patrocínio com Nilo Pereira, nomeando com o nome dos dois intelectuais o tempo que se vive. É claro que a adesão de agremiações do Rio Grande do Norte, como se imagina, será bem recebida, sobretudo porque há indicações para uma nova edição daquele livro que vem sendo motivo do trabalho de Helicarla Moraes. Ora, se uma das tiragens da obra foi patrocinada pela UFRN, é bem possível que a instituição assuma novamente o encargo ou mesmo o Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Norte. A escola que tem o nome do homem centenário, com certeza, também, o homenageará. O periódico virtual Chaminé (http://www.chamine2.blogspot.com/), que circula atualizado a cada semana, dedica durante todo o ano, a cada passagem do dia 11, uma crônica sobre o conterrâneo ilustre. Ótimo! Quem continua lembrado não fenece no seio de sua gente.
* Geraldo Pereira é filho de Nilo Pereira. Tem 65 anos de idade, nasceu no Recife. Formou-se em medicina e ensinou na Universidade Federal de Pernambuco. Casado, pai de três filhas, duas casadas. Uma em Madri e outra no Ceará. Escreve no Jornal do Commercio do Recife. Já escreveu quase duas centenas de artigos. Integra o Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco. Publicou algumas das crônicas que escreveu em livros. No momento, dedica-se ao estudo da história da medicina em Pernambuco.



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MENSAGEM RECEBIDA
Vocês foram buscar no fundo do baú essa série, né? Pensei que nunca mais iria rever essas imagens. Adorei me reportar a esta época de séries inocentes. Parabéns! SOLANGE.
Grato pelo comentário Solange. Se possível informar nome completo, sua cidade e/ou e-mail.

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