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domingo, 14 de junho de 2009

Há pouco mais de um ano, mais precisamente no dia 03 de maio de 2008, o artista cearamirinense Manoel Fabrício de Souza, popularmente conhecido por Amarildo, deixava o plano terrestre, viajando para a morada do Pai. Esta semana Gibson Machado publicou em seu blog um ótimo texto para lembrar o poeta e abaixo transcrevemos.


Manoel Fabricio de Souza, ninguém o conhecia assim. Artística e cotidianamente atendia por Amarildo. Para mim, Amarildo, o Menestrel! o trovador! O Poeta, cantador de romances impossíveis.

Eu o conheci ainda pelos idos de 1990 quando trabalhávamos juntos na Secretaria de Saúde de Ceará-Mirim e, desde aquele tempo, mantivemos uma boa amizade. Fizemos algumas tertúlias com os colegas de trabalho e geralmente pegávamos o sol com a mão, assistimos muitas vezes o dia raiar e o galo cantar... fazia parte da festa!! Infelizmente nunca participei de uma seresta com ele pelas ruas da cidade.

Sempre o provoquei para publicar seus escritos, no entanto desconversava diplomaticamente, dizendo que estava preparando o material. E o que é certo é que o material nunca apareceu.

A poesia do velho menestrel era uma tradução do seu maior sentimento, ora por uma donzela de amor impossível e, principalmente, cantando a beleza de nossa terra, do vale aquarelado, enegrecido pela fumaça imaginária de engenhos fantasmas, testemunhos de um período fausto, aristocrático de sinhás e sinhôs, cuja riqueza retratava através dos gritos e gemidos de cativos em troncos e grilhões, ou sinhazinhas coradas e prendadas desfilando seus suntuosos vestidos como sonhos de renda.

O sofrer do poeta é energia de uma produção constante. Faz sonhar acordado e lembrar momentos vividos num passado que não volta mais, muito distante. Assim é esse poeta, cujas canções fazem as emoções transbordarem em busca de realidades infinitas de sua terra tão amada, deusa da essência!!! Para ele ninguém poderia reprovar seu amor egoísta, como uma música de acorde doce e terno, cujo timbre ressoa dentro do peito ecoando em louvor a Ceará-Mirim.

Em sua temporada entre nós produziu muitas poesias e músicas e, muitas das poesias, foram premiadas em concursos literários em nossa cidade. Os temas tratados pelo poeta eram diversificados, no entanto, falava sempre do amor, seja por uma musa inspiradora, pela província verde que ele tanto amava, pelas crianças abandonas ou pela desigualdade social que massacra nosso Brasil, deixando fora do berço esplêndido tantos brasileiros.

Assim era o poeta, o trovador, o menestrel, parceiro de tantos boêmios cearamirinenses, companheiro de muitas serenatas (não tive o prazer de fazer nenhuma), inclusive a tradicional seresta das mães que acontecia (e continua sem ele) por mais de vinte anos. Amarildo esteve sempre levando sua aura luminosa às noites musicais para nossas musas maiores, as matriarcas de várias famílias locais.

O som do seu violão silenciou como tantos outros e, certamente, estarão em algum lugar, todos os saudosos boêmios, fazendo uma serenata encantada... o violão de Misael, o cavaquinho de Raimundinho, o sax de José Gago, o baixo de Davi, todos em sintonia, acompanhando a Patativa do Vale, Cirineu Campos, encantado recentemente... É assim que vejo esses eternos menestréis.

Nosso trovador era um peregrino do amor como ele mesmo se declara ao tempo que passou:

PEREGRINO DA ILUSÃO

Sou mercador deste sonho peregrino que faz de ti minha dor e meu destino.

Sou passarinho para quem quiser ouvir-me a confissão deste amor que é tão firme.

Sou teu poeta como não existe mais, que fica triste ao saber que longe estás.

Sou teu cantor a que nada desanima, eu sou o verso a que você empresta a rima.

Para mim são os teus olhos que me mostram com clareza, tua janela onde min’alma vive presa.

Sou pegureiro deste sonho encantado, sou prisioneiro desse amor desesperado.

Tu és a vela flutuando sobre o mar, eu sou o vento afortunado a te beijar.

Sou andorinha que o par de asas solta, e nos teus braços se aninha a cada volta.

O encantamento do poeta pode ser sentido através do poema LÁGRIMAS E FLORES:

Hão de chorar por nós todas as rosas

Que deixaste no jardim da nossa casa.

Hão de amargar esta saudade que me abrasa

E o peito queima em larvas sulfurosas.

Derramarão suas lágrimas copiosas

Carpindo a dor que minha alma extravasa

As flores e eu, por sobre a cova rasa

Onde enterraste as nossas horas venturosas.

Hão de chorar de saudade entristecidas

As Gardênias, a Dália, a grave Hortência

Os Cravos, os Lírios, as margaridas

E chorará alucinada e sem ter calma

No amargor cruel da tua ausência

Inconsolada e aflita minha pobre alma.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Comentário de Eliel Silva:
Quantas vezes estava eu na Biblioteca, trabalhando, e recebia a visita do amigo Amarildo. Chegava de mansinho, sorrateiro. Esse era seu jeito. Entrava, quase sem falar com ninguém. Ia em direção as estantes dos dicionários, pegava um e se debruçava na janela para consultá-lo. Alí ele buscava novas palavras para os seus poemas. Certa vez escrevi um poema para "seu" Francisco, o saudoso jardineiro daquela casa, que partiu às vésperas do natal. Colocaram o poema no mural, e qual não foi a minha surpresa ao ver Amarildo parado, de frente a ele, lendo meu singelo poema. Pensei comigo: lá vem bronca! Passou por mim e disse: grande poeta! Pirei. Um elogio daquele homem tão reservado era para mim um passaporte para prosseguir escrevendo as minhas impressões do cotidiano. A cultura de Ceará-Mirim deve ao poeta Amarildo o livro que ele não conseguiu publicar. Gibson, vejo em você a pessoa mais certa para buscar esse sonho. Não dá para esperar mais...

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