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domingo, 15 de fevereiro de 2009

DA SÉRIE: "O CÉU DE CEARÁ-MIRIM"
O Clérigo que não traiu
por Franklin Jorge

Ao publicar os seus primeiros artigos em A República, o jornal de Pedro Velho, em cujas páginas escrevia a intelligentsia potiguar da época, Edgar Ferreira Barbosa (1909-1976) tornou-se um modelo para outros escritores.
Nascido em Ceará-Mirim, desde moço possuía um senso muito agudo de Justiça e o exercitou como cidadão, escritor, jornalista, magistrado e professor. Ex-alunos seus – Albérico Batista da Silva, Diógenes da Cunha Lima, Anna Maria Cascudo Barreto e Jarbas Martins... – lembram do mestre que era uma biblioteca viva, cavalheiro elegante e um tanto cético que discorria com serenidade sobre a servidão humana, a retidão da justiça e a tortuosidade dos julgamentos.
Formado em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, em 1933, Edgar foi por toda vida, através de três decênios de prática jornalística, um intelectual em permanente contato com a realidade. Foi, assim, o primeiro dos nossos escritores a refletir sobre questões complexas que ainda engatinhavam, como a expropriação do humanismo pela tecnologia.
Também se colocou, como magistrado e pensador, diante de um dilema de justiça e buscou a equidade sob a aparência de um cavaleiro de triste figura, saído da imaginação de Cervantes, notabilizando-se como advogado, por excelência, das causas perdidas. Em Alguns aspectos da livre convicção, ensaio publicado na revista “Tempo Universitário” (Editora Universitária, Vol. I, Número I), Edgar reflete sobre o drama do juiz que tem diante de si não apenas as frias peças de um processo, mas os conflitos que os postulantes trazem à consideração e à sentença do julgador. Por isso, Nilo Pereira viu nele alguém que insistia sempre no tom humano do ato de julgar.
Nutrido de humanismo algo montaigneano, Edgar foi um idealista que viu na adulação e na subserviência justificativas para a decadência da magistratura que, de poder independente e soberano, passava à dependência de interesses circunstanciais ditados pela política e aviltados pelo partidarismo. Seu livro “História de uma Campanha”, posteriormente repudiado pelo autor, num ato de contrição, constitui um exemplo e o fim do namoro com a política.
Essa grande decepção, referida por seu biógrafo e amigo da vida inteira, o também cearamirimense Nilo Pereira, talvez tenha fortalecido em Edgar Barbosa a inclinação para uma vida obscura, reservada e devotada ao estudo e à reflexão de temas suscitados de maneira pioneira entre nós. Assim, ainda na década de 50, mostrava-se o escritor preocupado com os frios tecnicismos que começavam então a suscitar suspeita e desconfiança entre intelectuais. Porém, como humanista embora um tanto desconfiado, manteve uma fé inabalável na vitória final do homem sobre a máquina.
Para alguém, como Edgar Barbosa, o jornalismo não foi senão o veículo necessário à renovação da idéias e uma tribuna capaz de proporcionar o debate democrático de interesses contraditórios, ao deixar às claras, pela investigação apaixonada, as obscuras razões que norteiam questões sociais aparentemente legítimas. E, nunca deixou de nos chamar a atenção para o jornalista, como alguém que precisa conquistar todos os dias o seu espaço de atuação política, vilipendiado às vezes pelo dirigismo publicitário que é, a rigor, neste fim de século, o legislador do mundo.
É bastante observar a propaganda oficial que domina os meios de comunicação, para concordar com ele sobre a ditadura das assessorias de imprensa, como organismos parasitários criados pelos governos que, levados por uma incontida tendência despótica e sem outro desejo senão o de fugir às imposições da realidade, desdenham as leis.
Sem atribuir ao jornalismo o papel de juizado, Edgar Barbosa defendeu, entretanto, que a informação não vale apenas pela sua fonte, pela personagem e pela idoneidade do órgão de onde procede, mas vale igualmente pelo jornalista que a transmite, redigindo-a sob a compenetração de sua responsabilidade. Mesmo porque, como enfatizava, sem ser pedante nem professoral, a informação deixa de ser uma informação se não é verídica.

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